domingo, 22 de janeiro de 2017

Açores: a magia do Atlântico (2/2)

As cascatas são o maior ex-libris das Flores! Pela elevada precipitação que ocorre na ilha, o manancial que alimenta as lagoas e ribeiras nunca se esgota. Sendo uma ilha bastante alta para a dimensão (o pico mais elevado é o Morro Alto, com 914m de altitude), as pendentes são fortes. Em nenhum local esse facto é mais poderoso que na costa Oeste, no conjunto de pequenas ribeiras que escorrem encosta abaixo, com uma surpreendente urgência, confluindo da Lagoa das Patas, também conhecido como Poço da Alagoinha, um dos postais mais emblemático dos Açores! Para aqui chegar, só a pé. O carro (ou bicicleta, uma sugestão fortemente recomendada para os mais atléticos) fica na beira da estrada. Um curto e pedregoso trilho, sempre a subir, leva-nos através da floresta até às margens da pequena lagoa. Num dia bom, sem vento nem chuva, o espelho é perfeito e facilmente nos julgamos perdidos no paraíso. Mas esta é apenas uma das múltiplas lagoas, maioritariamente espalhadas pela zona alta da ilha. Os nomes são elucidativos e denotam a génese vulcânica dos Açores, crateras de antigos vulcões que, após as erupções que moldaram a ilha, se encheram de água: Caldeira Funda, Rasa, Branca, Seca e por ai em diante… Para as visitar, duas opções: percorrer simplesmente, e devagar, a estrada que atravessa a ilha pela zona mais alta. Ou, uma vez mais, trilhar alguns dos muitos percursos pedestres de pequena rota (PR) homologados que cruzam as Flores e nos permitem conhecer recantos de outra forma inacessíveis. Por todos estes motivos o trekking é, a par do canyoning, uma das actividades de exteriores mais populares aqui, atraindo adeptos de ambas as modalidades de origens bem longínquas.

No lado oeste da ilha das Flores, pela estrada que serpenteia pela encosta abaixo, há um monumento natural que se destaca na paisagem, emoldurado na Primavera e Verão por milhares de hortênsias em flor: a Rocha dos Bordões! A formação geológica, com dezenas de linhas verticais de origem vulcânica, parece desenhada na falésia! Continuando a descer, tomamos rumo em direcção à Fajã Grande, onde a estrada acaba. Mas não sem antes fazer um pequeno desvio, para visitar a aldeia da Cuada. A pé, uma vez mais, entramos numa viagem no tempo, para trás e para a frente. Passamos a explicar: a Cuada transformou-se numa unidade hoteleira a céu aberto, talvez o mais bem sucedido exemplo de turismo de aldeia em Portugal. Abandonada em meados do século passado pelas sucessivas vagas de emigração que assolaram os Açores, foi lentamente sendo adquirida e recuperada por Teotónia e Carlos Silva, um casal visionário que se recusou a aceitar o fado a que parecia destinada. Casa a casa, a aldeia ressuscitou, e são hoje os turistas que aqui se alojam que lhe trazem de novo vida.

Mas o destino desta jornada é mesmo a Fajã Grande: a localidade mais ocidental da Europa! Ao chegar, instalamo-nos confortavelmente no bar Maresia, afundados num dos sofás vintage a quem a idade não parece fazer mossa, a poucos metros do oceano, que marulha suavemente. Aqui o bom gosto musical casa–se em harmonia com a tranquilidade que a vista proporciona. O entardecer toca a perfeição! E ali, a poucas centenas de metros, o ilhéu de Monchique ergue-se, orgulhoso, como o último território europeu antes do vazio que só terminará do outro lado do Atlântico, na costa norte-americana.

Mais abrigada das tempestades que vêm do mar aberto, a costa Leste da ilha abriga a maioria das localidades. Aqui a tradição baleeira ainda se sente, seja no museu, instalado da antiga fábrica, seja pelas conversas que, num banco de jardim ou ao balcão de uma tasca, vão surgindo inesperadamente. São cada vez menos as personagens desta história centenária capazes de a relatar na primeira pessoa. A última baleia foi caçada nos Açores em 1987, e por isso só os mais jovens baleeiros são ainda hoje vivos. Mas o entusiasmo patente no brilho do seu olhar não engana e é com paixão que contam (e que ouvimos) as aventuras e desventuras desta perigosa actividade que se vai perdendo nas brumas do tempo e que, no momento presente, temos o privilégio de escutar pela última vez… Mais acima, na ponta norte da ilha, o farol do Alvernaz ergue-se como um gigante protector. As arribas que se erguem aos seus pés fazem-no parecer liliputiano, paradoxalmente. De lá, o olhar é magneticamente atraído para o rochedo verde que se perfila na linha de horizonte, à direita. É ela, a mais diminuta mas curiosamente famosa ilha açoriana, o Corvo.


Notícia: portal «Momondo».
Saudações florentinas!!

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