terça-feira, 19 de julho de 2016

Saber valorizar e oferecer o que temos

As ilhas açorianas têm património e belezas notáveis e todas são diferentes. Para alguns a ilha das Flores terá a maior beleza natural, mas para todos é, pelo menos, uma das mais lindas, com muito para desfrutar concentrado em poucos quilómetros quadrados.

A ilha das Flores está a ser muito procurada pelo turismo, como as demais e o Continente português também. Um fenómeno que também tem a ver com a conjuntura mundial, mas é necessário não só aproveitar o rendimento presente, como sobretudo consolidar o futuro. Se quisermos afirmar e desenvolver o turismo, temos de ser muito rigorosos na forma como recebemos e sabermos valorizar e oferecer o que temos.

Numa ilha como as Flores os turistas não podem socorrer-se da procura, na periferia, do que aqui lhes faltar. Já bastam os inconvenientes e imprevistos atmosféricos, mesmo no Verão, que deveriam motivar, por parte dos serviços oficiais de promoção do turismo e dos próprios operadores, a oferta de alternativas criativas, nomeadamente de natureza cultural, desportiva ou lúdica, que impeçam os que nos visitam de exasperarem.

Deveria ser feito um trabalho envolvendo todos os agentes económicos do sector, que serão concorrentes mas não podem ser inimigos, bem como os serviços do Governo Regional e as diversas autarquias locais, que para além das suas próprias intervenções devem, se necessário, assumir o papel de motivadores do diálogo, moderação e articulação.

Os turistas não querem apenas ver natureza exuberante, mas também desfrutar de um bom serviço nos restaurantes, nos bares, nos táxis e demais transportes. Querem descobrir as tradições e festas. Não acham aceitável que o comércio de géneros alimentares não se abasteça em qualidade e em quantidade. Querem encontrar nos restaurantes os aperitivos, os pratos e as sobremesas tradicionais e comer peixe fresco e marisco de águas despoluídas. Para felicidade deles e vantagem económica nossa, o mais possível confeccionados com produtos produzidos localmente.

Encontrei já, no Continente, pratos cozinhados quase sem sal, diziam-me que por exigência da ASAE. Um restaurante não é um hospital e não se pode dar cabo da enorme riqueza nacional que é a cozinha portuguesa. O exagero de sal não é saudável, mas há pratos tradicionais que não o dispensam. Faça-se ementa com alternativas e informe-se bem o cliente.

Um turista satisfeito pode voltar; e seguramente publicita o destino.

Como para muitos católicos a prática religiosa não tem férias, importaria ter à porta das igrejas os horários das missas.


Opinião de Renato Moura, publicada no portal Igreja Açores.
Saudações florentinas!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Há zonas em Portugal onde o turismo se comportou como a praga de gafanhotos de bíblica memória. Vieram, ocuparam e deixaram um rastro de destruição que só visto. A ilha das Flores, pequenina que é, não se pode dar ao luxo de dar um passo em falso nesta área. Tem que ousar ser selectiva, elitista até, escolher o tipo de turismo que quer acolher e não deixar que seja ao contrário. Não penso que tentar agradar a todos e em tudo seja a solução. Sou o mais possível a favor da qualidade, da arte do bem receber, do pormenor que cativa. No entanto, o turista que fica frustrado se não tiver alternativas culturais e lúdicas ao mau tempo talvez fizesse melhor em escolher um outro destino porque acontece que o mau tempo, o nevoeiro, a chuvinha insistente, essa suave tristeza, a melancolia, esse mistério que são a sua marca de água, pode desagradar a muitos mas de certeza que fala à alma de muitos mais. Pequenina como a ilha é, certamente que os que não vêm ao engano e ficam deslumbrados apenas com a sua beleza e elegante simplicidade mesmo em dias cinzentos e de chuva, seriam suficientes para manter o setor ativo durante muitos meses por ano, sem entupir a ilha nem exigir-lhe uma oferta que talvez a logística nem permita ter. Há vida para além do fast-tourism que vem 2 dias, não sai do carro, tira 867 fotografias por minuto nos miradouros e vai embora indiferente. Disso ninguém precisa.